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segunda-feira, 27 de junho de 2022

UCRÂNIA: JANELA PERDIDA



Mais de 4 meses depois da agressão e da invasão liderada por Vladimir Putin, os ucranianos continuam a tombar.

Apesar da propaganda, desde os apoios humanitários ao fornecimento de armas, a verdade é que os russos continuam a avançar.

Resta a vitória europeia de atribuir à Ucrânia o estatuto de candidato à adesão da União Europeia.

Com as sociedades europeias a sentir verdadeiramente os efeitos da guerra, a partir de Setembro, a inevitável contestação à perda de poder de compra poderá fazer a diferença.

Os franceses já deixaram um aviso.

Não compreender que a janela de oportunidade para derrotar o ditador se está a esgotar é um gigantesco erro de percepção.

Putin pode impor aos russos mais fome, miséria e silêncio, mas as democracias ocidentais dificilmente conseguirão travar a contestação social que se avizinha a curto prazo.

Jogar a solução da Guerra na Europa no médio e longo prazo pode ser fatal para a Rússia, mas também é um risco demasiado perigoso para as sociedades europeias.

O sentimento de não estar a ser feito tudo deixa um gosto amargo.

Talvez seja mais fácil compreender a reacção dos “pacifistas” e “comissionistas” a cada anúncio de mais um apoio ao povo ucraniano, a cada barreira erguida contra a impunidade russa.

Os 120 dias perdidos são um incentivo para o ditador, um álibi para mais negociatas internacionais, uma ameaça para as democracias e uma condenação para os países mais pobres.

 

 

 


segunda-feira, 28 de junho de 2021

CUL-DE-SAC


Se relermos as notícias de 2001 somos levados a concluir que estamos em 2021, ou vice-versa. 

Há 20 anos era a corrupção, a impunidade, o nepotismo, a falta de longo prazo, tal como hoje, com a diferença que a Covid acelerou a percepção dos cidadãos

A demissão de António Guterres certamente não se repetirá com António Costa, mas o pântano nunca foi tão fácil de enxergar como agora.

Até a alternativa a Guterres – Durão Barroso –, confirmada em 2002, gerava então tanto entusiasmo como a possibilidade de Rui Rio suceder ao actual primeiro-ministro.

Dez anos depois, com Passos Coelho, os portugueses ainda acreditaram que a mudança era possível com a troca do líder, sem transformar o país.

Ora, PS e PSD continuam iguais ao que sempre foram, para desgraça dos portugueses.

Duas alterações vieram cavar ainda mais o abismo.

A primeira pode resumir-se à banalização de Belém a partir de 2016, caindo a tradição da Presidência ser a última referência, para o bem ou para o mal.

Actualmente, tudo mudou com o brutal branqueamento presidencial ao serviço de António Costa e do regime de opacidades.

A segunda também está à vista: o fenómeno do Chega.

Depois de engolida a Esquerda mais radical, a táctica rasteira de engordar a Direita mais extremista continua a avançar.

Nem mesmo a consolidação da dinastia Le Pen e a irrelevância do PS francês bastaram para demover o cinismo político em curso.

Em 2015, António Costa conseguiu dissolver o azeite na água, abastardando a tradição parlamentar, com os resultados que enfrentamos no presente.

E se, em 2023, Rui Rio, ou qualquer outro líder do PSD, seguir a mesma fórmula oportunista, então as consequências são imprevisíveis.

No início do século escolhemos o mal menor, sem entusiasmo e convicção, por falta de cidadania e porque o país não tinha nada de diferente para oferecer.

Em 2023, ou antes, se a fuga para Bruxelas de 2004 se repetir, a mesma falta de cidadania, a mesma opção sem futuro, pode obrigar a outras tantas décadas perdidas.

Se não mudarmos, se o país não mudar a tempo, voltaremos a enveredar por becos sem saída (cul-de-sac).


domingo, 28 de outubro de 2018

LIMPEZA NUNCA VISTA


Bolsonaro ganhou pela mudança.

A "esquerda" perdeu no Brasil, com o sonho a virar pesadelo por causa da corrupção instalada, do crime organizado e da insegurança.

Os chavões ideológicos falharam. 

A facada não venceu.

A Comunicação Social brasileira perdeu estrondosamente ao entrar no jogo político.

E, actualmente, ficou provado que as grandes encenações de rua são dispensáveis.

A eleição de Bolsonaro merece mais três reflexões:

Em primeiro lugar, entre as falsas promessas e as "fake news", os eleitores brasileiros não optaram pelo aparente mal menor.

Tal e qual como Ciro Gomes, o candidato do Partido Democrático Trabalhista (PDT), que manteve distância da lixeira.

Em segundo lugar, Lula da Silva e o seu messianismo fabricado perderam em toda a linha nas presidenciais brasileiras.

Não chega, não chega ter feito bem, e depois fazer tão mal e tanto mal.

Em terceiro lugar, a Justiça brasileira prestou um enorme serviço ao povo brasileiro ao limpar uma boa parte do sistema político.

A vitória de Bolsonaro tem um alcance muito maior do que o próprio Brasil.

É mais um passo para o fim do domínio da tal "esquerda" na América Latina castigada pela pobreza, corrupção e marginalidade.

Quem se segue?

A Venezuela?

Bolsonaro não é o fim do mundo, nem o dilúvio, nem tão-pouco o regresso ao fascismo, porque a ditadura nunca é de um só homem.

A cultura democrática, os direitos individuais e as instituições são valores da civilização sempre mais fortes, porque são de todos, da Humanidade.

O discurso radical de Bolsonaro - tal como o de Trump - não é mais do que a reacção previsível em relação ao falhanço ideológico, político e executivo da tal "esquerda" falida que ainda acredita que os fantasmas são suficientes para condicionar o voto dos eleitores e ganhar eleições.

É uma lição de monta para o que ainda resta do marketing político.

Aliás, a música que chega do Brasil vai passar a ser bem diferente daquela das novelas e dos intelectualóides que cantaram a "esquerda" enquanto passeavam de braço dado com a corrupção do PT no poder.

É Bolsonaro, pois então é sempre melhor saber realmente quem temos pela frente.

E anuncia-se uma limpeza nunca vista.

Será só no Brasil?

sábado, 20 de outubro de 2018

MARCELO, AUTO-ESTIMA, PÂNTANO E BAILETE


O presidente da República tem pautado o seu mandato pela proximidade, exibindo um estilo informal.

É verdade que o país precisava de uma lufada de ar fresco e de ânimo, mas promover a auto-estima dos portugueses não é igual a participar em eventos mais ou menos folclóricos e enviar uns recados avulsos em dias de comemoração, os quais, quando isolados e desgarrados, apenas servem para reforçar a sensação de branqueamento generalizado.

E a auto-estima de um povo só pode ser atestada pela regra, e não pela excepção traduzida na inauguração de mais uma obra faraónica ou de um momento de exaltação patriótica.

A valorização da auto-estima só se alcança com verdade, transparência e políticas concretas.

Por ter saneamento básico, mesmo no mais recôndito lugar do país;

Por ter Saúde, sem ter de estar horas numa fila de espera ou correr o risco de morrer por causa de uma bactéria à solta nos hospitais;

Por ter Educação, sem chafurdar nas conjunturas políticas, partidárias e sindicais;

Por ter acesso à Justiça, sem ter de pedir dinheiro emprestado para pagar as custas e assegurar advogados com o mínimo de experiência;

Por ter acesso à Cultura desde a escola primária, sem ter de pagar umas feiras, uns concertos e umas óperas com convidados em traje de gala.

Em suma, a apologia da auto-estima é assumir o pior, sem vergonha, rodeios e paninhos quentes, pois só assim é possível mudar e progredir.

Por isso é que os negócios, negociatas e demais falcatruas, que têm assaltado a agenda mediática e o quotidiano dos portugueses, já deviam ter mobilizado o presidente para o combate aos ladrões e corruptos.

Na batalha sem quartel que se está a travar entre as máfias que dominaram o país nas últimas décadas, como atestam os mais diversos processos judiciais e os livros dados à estampa com estrondo, Marcelo Rebelo de Sousa tem de escolher entre a equidistância cúmplice e a reprovação activa e mobilizadora.

Portugal só conseguirá sair do pântano com atitudes cristalinas, a afirmação do Estado de Direito, a protecção dos direitos individuais e a defesa da liberdade de expressão.

Apesar de ter interiorizado a cultura democrática, Marcelo Rebelo de Sousa é o que é, não pisa o risco, continua a ser o fiel sorridente do sistema, o comentador do regime, o amigo de todos, dos "doces" aos  "salgados".

Mas a vida é como é, desde que os cidadãos assim o permitam.

E têm permitido tudo, com o beneplácito de uma elite venal e venial, de uma classe política assolada pela opacidade e corrupção e de uma comunicação social tão veneranda quanto falida, salvo raras excepções.

Mas Portugal é muito maior do que uma certa canalha minoritária e transitória, hoje como ontem instalada no poder, que multiplica elogios e estende a passadeira vermelha a quem varre o lixo para debaixo do tapete como quem dança a valsa.

Mesmo para aqueles que querem parecer o que não são, nem nunca foram, com a cumplicidade do exército de pardos pagos principescamente para nada ver, ouvir e saber, a realidade é só uma: a batalha pela melhoria da auto-estima de um povo é muito mais do que um bailete.

P. S. Esta crónica foi escrita em 19 de Outubro de 2016. Mais de dois anos depois continua MAIS ACTUAL!

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

ESPIÃO CONFESSA... PAÍS FASCINANTE!


É sempre um momento especial, quando vemos a luta reconhecida.

Não a luta de uma vida, mas apenas uma das muitas batalhas profissionais.

Não que fosse necessário, quando existe a honestidade e a certeza do trabalho feito.

Aliás, e não menos importante, porque até já existe uma decisão judicial que conforta.

O mais espantoso é tal sentimento de justiça resultar da confissão de um dos algozes, e não do escrutínio democrático ou da aplicação do Estado de Direito.

Carlos Rodrigues Lima, em artigo de opinião - "Uma junta médica ou um inquérito" -, lança a questão que importa: «Alguém terá coragem para, ainda que os factos remontem, provavelmente, à década de 90, pedir uma investigação séria e rigorosa?».

Portugal é um país fascinante!


segunda-feira, 15 de outubro de 2018

PJM: DA REVOLUÇÃO À BIZARRIA


A Polícia Judiciária Militar (PJM) escapou em 2002 e 2006 da extinção e fusão com a Polícia Judiciária (PJ). 

António Costa (então ministro da Justiça de António Guterres) e José Sócrates (então primeiro-ministro), respectivamente, recuaram no momento de acabar com esta polícia que vingou em 1975. 

Certamente, tal deveu-se a serviços “muito relevantes”. 

À luz do que é público, há mais de um ano que tudo mudou com Tancos. 

E, actualmente, depois de conhecida a bizarria da operação negra mais incompetente da história das polícias, já não é mais possível fazer de conta. 

Para que serve esta polícia com vocação coincidente com a PJ? 

Por que razão a fusão com a PJ encalhou, apesar de estarem estudados ganhos e sinergias? 

O que andaram a fazer e o que fazem as dezenas de investigadores da PJM que dependem, desde 1993, do ministro da Defesa? 

E alguém escrutina como são gastos os milhões de euros pagos pelos portugueses? 

O silêncio do presidente da República é insuportável. 

Bem como é vergonhosa a circunspecção da oposição parlamentar – quer da direita, quer da esquerda (o apoio ao Governo tem dias). 

Curiosamente, nenhuma força política parece estar muito interessada em obter respostas depois do maior escândalo nas Forças Armadas portuguesas. 

Nem mesmo o CDS/PP de Cristas (e Portas) veio a terreiro pedir uma investigação séria ou o fim da PJM. 

Ou seja, é uma opção dos centristas – de pasmar, ou será que não… – que deixa muita água no bico. 

A demissão de Azeredo Lopes não resolveu tudo. Não fez desaparecer o roubo, a encenação da recuperação das armas e o(s) memorando(s). Nem matou a verdade. E, como diz Constança Cunha e Sá, «alguém anda a mentir». 

Uma polícia que é capaz de fazer o que fez não pode continuar a existir com a mesma hierarquia e os mesmos investigadores. 

A nomeação de João Gomes Cravinho para a pasta da Defesa, uma escolha credível, abre assim a porta a uma averiguação aprofundada à PJM e, consequentemente, a confirmarem-se as tropelias, à vassourada imediata. 

A não ser que… Outros serviços “muito relevantes” tenham sido concluídos com êxito e/ou estejam ainda em curso… 

Obviamente, em nome do “interesse nacional”.

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

NEGÓCIO, CHAUFFER E SÚCIA


A EDP sempre foi um Estado dentro do Estado.

E o BES, que já não é mais do que um somatório de escombros – depois de ter sido responsável pelo desaparecimento de milhares de milhões de euros –, ainda continua a dar muito dinheiro a ganhar.

Não, esta crónica, por mais moderna, não é sobre o Estado chinês que já controla quase 30% da eléctrica.

Nem tão-pouco é sobre Ricardo Salgado, os norte-americanos da "Lone Star" e os prejuízos do "Novo Banco", em 2017, de 1.395 milhões de euros”.

E, fica já o leitor avisado, também não é sobre a suspeita de uma avença de 15 mil euros mensais paga pelo BES a Manuel Pinho, o então ministro da Economia de José Sócrates (caso único?).

Muito menos é sobre os benefícios de mais de 1,2 mil milhões de euros concedidos à eléctrica sino-portuguesa com o selo da generosidade de Manuel Pinho (só?).

Aliás, convém sublinhar que o assunto está a ser tratado pelo Ministério Público.

E Lucília Gago, a procuradora-geral da República que toma posse a 12 de Outubro, já deve estar inteirada dos crimes que estão a ser investigados - a provar e confirmar em trânsito em julgado -, esperando que o presidente da República não insista em fazer declarações que possam ser entendidas como uma pressão sobre a Justiça ou que prejudiquem as investigações em curso.

Caro leitor, esta crónica é sobre outro assunto: a declaração de João Talone, antigo presidente da EDP, no Parlamento, em sede da comissão parlamentar de inquérito sobre as rendas da energia.

O executivo, que também foi administrador do BCP, instituição financeira que esteve quase a cair no charco, foi cristalino e taxativo: «Quando cheguei à EDP [2003], a empresa tinha 12 consultores com motoristas que tinham sido ministros do PS e do PSD».

Não, não houve desmaios nem qualquer sinal de comoção entre os deputados habituados a ler jornais e a passar e deixar passar pelas “portas giratórias” da política e dos negócios.

Apenas alguns pares de olhos no chão, pois o assunto era por demais conhecido.

Aliás, enquanto várias peças de rigorosa "investigação" jornalística apontaram, durante anos a fio, as escandalosas rendas de horas extraordinárias dos chauffers do Estado - mais criancinha para levar à escola menos madame para fazer compras no shopping –, o Governo, a EDP, o BES e outro tipo de "motoristas", também para todo o serviço, faziam pela vida e negociavam contratos à fartazana, sem o mais ténue sinal de embaraço ou vergonha, à boleia da dívida que, mais tarde ou mais cedo, vai ser paga.

Por cá, mais CAE menos CMEC, criar esquemas fantasiosos e inventar mentiras grosseiras, ganhar umas massas ilegalmente e viver às escondidas só mesmo nos "negócios" da súcia sem eira nem beira.




quinta-feira, 27 de setembro de 2018

PGR COM NOVOS LIMITES




A história da nomeação de Lucília Gago é um enorme contributo para a redefinição da "transparência" na Democracia portuguesa.

Pela mão de um primeiro-ministro que perdeu as últimas eleições e de um presidente da República que interpreta a Constituição da República a seu belo prazer, a nova PGR tem à partida bem definidos novos limites de actuação.

Além daqueles que decorrem da Lei, Lucília Gago sabe que há assuntos em que não se deve meter, como por exemplo, Angola e os seus altos dirigentes; e também está ciente que seja qual for o seu desempenho ao longo do mandato, que começa a 12 de Outubro, não será reconduzida se António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa continuarem em funções em São Bento e Belém.

Para já, mesmo sem falar da EDP e dos interesses chineses, se tudo passou a estar menos "irritante", não está tudo resolvido, nem mesmo à luz desta nova "transparência".

Dois casos paradigmáticos borraram a selfie que António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa prepararam tão afincadamente para todas as portuguesas e todos os portugueses.

Num artigo de opinião, Pedro Passos Coelho, levanta questões tão sérias e graves que não podem passar sem escrutínio, pois estão em causa acusações directas de um ex-primeiro-ministro aos actuais dois mais altos representante do Estado português.

Por sua vez, as declarações de José Sócrates, um dia depois do anúncio da nova PGR, um detalhe "socialista" de timing político, também não podem ficar por esclarecer, pois estão igualmente em causa acusações directas às duas magistraturas e ao normal funcionamento do Estado de Direito.

Lucília Gago já tem pela frente dois novos casos sensíveis.

A forma como encarar as declarações de Passos Coelho e Sócrates vai representar um sinal inequívoco para percebermos se algo mudou ou se, de facto, está garantida uma linha de continuidade.

É que se não há uma Justiça para os poderosos e os mais ricos e outra Justiça para os cidadãos anónimos e mais pobres, então não nos podemos esquecer que existe uma cidadã investigada, acusada, julgada e condenada a três anos de prisão por ter dito muito menos do que Pedro Passos Coelho e José Sócrates. 

Chama-se Maria de Lurdes Lopes Rodrigues.


Mais um caso, mais uma história que não pode cair no esquecimento, nem mesmo à luz dos nossos dias em que é muito difícil distinguir entre a farsa e a realidade.

sábado, 16 de dezembro de 2017

Portugal ao espelho



A queda da Associação Raríssimas não é mais nem menos do que um mero exemplo dos tombos que o país de sempre deu, constantemente, há tempos e tempos, basta reler a História.

É o país do manganão, definitivamente, dos farsolas e dos falsos enganados que se alimentam, promovem e bajulam reciprocamente.

E quando rebenta mais um escândalo é vê-los, uns e outros, algozes e supostos impolutos, a arredar o pé.
  
É um exemplo que leva a outra realidade paralela em que o recato e a sobriedade são palavras vazias.

Não há problema, nunca há problema.

Nem que seja à custa do uso e abuso de donativos para assistir crianças ainda mais raras.

E venha uma Rainha...

Custa a acreditar que estas "vítimas" de mais um(a) saloio(a) deslumbrado(a), que nunca se livrou do chinelo no pé e do modus operandi do bairro suburbano, nunca suspeitassem de nada.

Claro, agora, é vê-los com cara de espanto.

Quanta desfaçatez...

No meio desta farsa existe um padrão de actuação mais profundo, resultado dos tempos em que vivemos, em que os valores e os princípios se resumem ao moralismo e voyeurismo dos costumes.

Ai, como é triste tudo isto.

Que exemplo para as futuras gerações tudo deitar fora por um carro topo de gama, por um trapo da moda ou por um prato de marisco...

E como é revoltante assistir a uma elite que sonha e se contenta com o supérfluo, que perde o norte e o sul por um par de mordomias sem importância.

A novela medíocre e grotesca, entre nós nada raríssima, faz lembrar os velhos tempos do cavaquismo e do socratismo em que o brilho falso fazia rodopiar os parolos deslumbrados com o poder e o dinheiro fácil, enquanto os oportunistas e os poderosos de sempre se aproveitavam e rebolavam a rir.

Sim, é isso mesmo, ainda não nos habituámos aos valores da Democracia, ao significado da responsabilidade política e pública, ao imperativo da gestão da coisa pública com ética e desprendimento, de que o Estado não sou eu, mas somos todos nós.

O caso Raríssimas é, mais uma vez, o país a ver-se ao espelho.

É o centrão em todo o seu esplendor.

É o modelo assistencial a mostrar uma parte do seu buraco negro.

É a dança das cadeiras entre o poder político e um rendimento obsceno nem que seja à custa de donativos para tentar salvar crianças ainda mais únicas.

Dizemos que não gostamos! 

Garantimos que não se pode repetir!

E, depois...

Next!

domingo, 19 de novembro de 2017

PSD: o futuro é já ali


O destino do PSD será determinado por dois factores: a herança de Pedro Passos Coelho e a eleição de um líder que assuma o combate por um Portugal mais livre.

Pedro Passos Coelho saiu pelo seu próprio pé, depois de ter enfrentado a fabulosa máquina que José Sócrates criou, e que ainda mexe, dentro e fora do PS.

Nem todos terão dado conta da dificuldade extrema que foi barrar os interesses desta gentalha, dia após dia, mês após mês, ano após ano.

Infelizmente, e apesar de ter tentado algum distanciamento, Pedro Passos Coelho nem sempre usou o mesmo critério em relação à outra gentalha homóloga do PSD, também composta por todo o tipo de gente, desde oportunistas a corruptos do tempo cavaquista.

Esta dicotomia de critérios foi fatal para a percepção dos portugueses em relação ao ainda líder do PSD.

Ninguém compreendeu, e podia aceitar, que a demarcação em relação ao universo de Sócrates não fora consubstanciada por igual atitude em relação aos pares de partido.

A máxima exigência em relação aos portugueses tinha de ter sido acompanhada por uma atitude cristalina em relação a todos, mesmo todos, que marcaram um passado de assalto aos bolsos dos portugueses que levaram o país à ruína.

Isso, sim, teria sido, manifestamente, marcar a diferença.

O mesmo se passou, infelizmente, em relação aos interesses difusos e inconfessáveis de terceiros em países como Angola, Venezuela e Brasil, aos quais Pedro Passos Coelho foi fechando os olhos sob o pretexto de uma alegada política de Estado.

Tal como na economia,  acelerar e travar ao mesmo tempo em política dá mau resultado, seja o projecto mais ou menos liberal.

Pedro Passos Coelho não quis, não soube ou não conseguiu ir mais longe, não arrancou a partilha do sonho de um país com mais transparência e menos corrupção, com melhor e menos Estado.

O seu sucessor vai ter pela frente o mesmo dilema: vai ter que escolher entre os tiques do passado e um projecto de futuro.

Tudo indica que a eleição do novo líder não deverá ser determinada por um projecto sólido, inovador e ousado, mas sim pelo somatório de vontades e interesses dos barões que mandam no partido, devidamente executados pelos instrumentais "boys" do aparelho.

Mas, como sempre, há sempre uma nesga de esperança.

Como Pedro Passos Coelho ainda tem o partido na mão, logo pode influenciar o resultado desta contenda.

Eis a última oportunidade do ainda presidente do PSD ficar na história, ao ajudar a eleger um líder limpo e capaz de fazer face aos interesses instalados.

Pode ser a última contribuição que lhe permitiria ainda aspirar a ter futuro político. 

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Rui Moreira: não voto


O exercício do poder não pode ser a mera combinação da aparência e da legalidade formal.

Tanto no processo Selminho como na alienação do palacete da avenida Montevideu, no Porto, o mínimo que se pode dizer é que Rui Moreira é uma tremenda desilusão cívica e política.

Se em relação ao primeiro caso estamos conversados e mais do que conversados, em relação ao palacete da Foz do Douro, de que Rui Moreira era proprietário com os seus irmãos, o presidente da Câmara do Porto, em exercício de funções, não deveria ter feito o negócio de uma forma opaca.

Tanto mais que teve que envolver a autarquia, tendo em conta que vai dar lugar a um hotel de luxo e sabe Deus que mais.

Rui Moreira não se pode esconder na formalidade, aliás, como no caso da Selminho, de que o assunto foi tratado pelos serviços da autarquia.

E, mesmo numa perspectiva benevolente, se assim o aceitássemos, obviamente que o deveria ter feito com toda a transparência, comprovando que se distingue do sistema sustentado pelos partidos políticos tradicionais de quem diz querer distância, aliás, propósito que chegámos a acreditar ter sido a razão fundamental para ter abraçado a nobre missão de serviço público que é a política e o exercício de funções públicas.

Confesso: Rui Moreira prometia muito mais do que Fernando Medina. 

Os negócios efectuados com contratos de confidencialidade até podem ser legais, mas estão vedados – ou deveriam estar, numa Democracia digna desse nome –, a quem exerce cargos públicos pelas mais óbvias razões. 

E já nem é preciso falar das árvores centenárias, certamente acometidas de súbita doença fulminante.

De facto, não é igual vender uma propriedade a um empresário como Belmiro de Azevedo, ou a um qualquer “PEP” (Politically Exposed Person), ou "Pessoa Politicamente Exposta", nos termos da definição da FATF (Financial Action Task Force), que é uma organização inter­-governamental cujos objectivos são estabelecer padrões e promover a aplicação efectiva das medidas legais, regulamentares e operacionais para combater o branqueamento de capi­tais, entre outros, de que Portugal é membro desde 1991.

Sejam eles, por exemplo, eventualmente, Sindika Dokolo ou Isabel dos Santos.

Se não há crimes perfeitos, também não há segredos acima de qualquer escrutínio.

Como dizia George Orwell, «quando se chega à mesa de voto, não se encontram homens de pistola na mão dizendo-nos como votar».

Ora, precisamente, eis a razão porque não voto Rui Moreira, pois a transparência que tanto prometeu está ferida de morte, independentemente de quaisquer interesses, dos dele, dos meus ou dos de terceiros.

quinta-feira, 27 de julho de 2017

OPERAÇÃO MARQUÊS: E O PS?


Mais de quatro anos depois do início formal da intitulada Operação Marquês, que levou à detenção e prisão preventiva de José Sócrates e já constituiu 30 arguidos, não há notícia que o Ministério Público esteja a investigar os cofres do Partido Socialista ou de quaisquer outros partidos políticos portugueses.

No contexto da vida política portuguesa, ninguém ficaria chocado se as investigações começassem por ter sido centradas nas contas do partido que Sócrates liderou.

Mas, para já, nem notícia, nem rumor, nem debate, nem exigência, nem nada.

Por que será?

Por que razão misteriosa, face a todos os indícios e suspeitas que têm vindo a público, com mais ou menos citação de peças processuais, e mais ou menos rigor jornalístico, nunca ninguém se atreveu a questionar a evidência: com tanto roubo de dinheiros públicos, tanta negociata, tanta corrupção, tanta comissão, tanta lavagem de dinheiro, então não terá sobrado nada para o partido do coração de Sócrates?

E com tanta ligação transversal, característica do Bloco Central, também não terá sobrado nem uma migalha para outros partidos políticos, sobretudo aqueles que têm representação na Assembleia da República?

O silêncio sobre esta questão tem sido de chumbo, revelando uma reverência muito especial, quiçá, um carinho ternurento e protector, em relação aos partidos políticos.

Em bom rigor, apenas Nuno Garoupa, na apresentação do livro "Os Três Magníficos", de Rui Verde, na Fnac Chiado, no passado dia 30 de Maio de 2016, ousou abordar esta questão de uma forma competente, descomprometida e cristalina, sem insinuações, mas com o rigor e a força dos exemplos passados na Europa e por esse mundo fora.

E não faltam exemplos, da esquerda à direita, desde Lula da Silva (PT - Partidos dos Trabalhadores) a Helmut Khol (CDU - União Democrata Cristã), sem esquecer o escândalo mesmo aqui ao lado, em Espanha, com José María Aznar e Mariano Rajoy (PP - Partido Popular).

O padrão não pode ser mais gritante: sempre que houve políticos, que ocuparam os mais altos cargos de Estado, envolvidos em casos de corrupção, então as investigações chegaram sempre aos cofres dos seus partidos políticos.

Em Portugal, por ora, tudo parece ser diferente.

Os banqueiros e os bancos já não escapam; nem os grandes empresários e as maiores empresas; nem mesmo os juízes e os procuradores.

Mas os partidos políticos...

A Justiça tem permitido a consolidação de uma cultura de impunidade no funcionamento dos partidos políticos, como comprova o "escrutínio" das suas contas e finanças, ano após ano, eleição após eleição.

Com a aproximação de mais uma data limite para a conclusão do inquérito criminal, resultante da "Operação Marquês", será que o país ainda vai ter uma enorme surpresa?

A Democracia nunca será uma verdadeira Democracia enquanto existir a percepção que os partidos políticos são uma espécie de coutada à parte.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

ANGOLA E PORTUGAL: ESTADISTAS DE PACOTILHA


Portugal continua a viver assim.

Num pântano político que é sempre pautado por dois momentos: o primeiro, em que os políticos e governantes não olham a meios para defender os seus interesses e de facção, hipotecando o futuro do país; o segundo, em que os mesmos revelam o auto-proclamado sentido de Estado para consertar a situação, qual pragmatismo que tem vendido o país aos pedaços e aberto as portas ao dinheiro sujo da corrupção e das ditaduras sanguinárias.

Da esquerda à direita, de Costa a Marcelo, nada de novo no horizonte, pois o que interessa é captar investimento e vender a qualquer custo a Angola, China, Guiné Equatorial, Venezuela, etc, e, se possível, tentar tapar o buraco na banca, da responsabilidade de bancários incompetentes, com dinheiro venha ele donde vier.

Não há limites para esta triste realidade em que o país se tem afundado, mais e mais, para depois se tentar levantar chafurdando no pior do pior.

A mais recente cena desta novela de má qualidade é o adiamento da visita de Francisca Van Dunem a Angola.

Imposto pelas autoridades angolanas, num curto comunicado, emitido à última hora.

Sem apelo nem agravo. Humilhando a ministra da Justiça e o governo de Portugal.

Já todos tinham percebido que António Costa tinha angariado Francisca Van Dunem essencialmente por causa da sua origem, visando acalmar qualquer irritação do ocupante do Palácio do Futungo, e não para fazer obra na Justiça.

Para já, o trunfo de Costa saiu furado, pois os problemas de Manuel Vicente com a Justiça portuguesa vão arrastar, inevitavelmente, as relações entre Angola e Portugal para um período sombrio.

Mas com estes estadistas de pacotilha tudo se pode arranjar. Quem sabe com mais um investimento angolano ou um par de malas de dólares bem lavadinhos, quiçá com o carimbo da família de José Eduardo dos Santos, tudo se pode compor.

Como serve a Angola e a Portugal, dizem eles, o que lá vai lá vai, até ao dia em que o povo angolano se livrar de uma ditadura corrupta e implacável.

domingo, 24 de julho de 2016

Terrorismo: a pedrada no charco



Não há ninguém insensível à carnificina miserável e ao assassinato de vítimas inocentes, desde Nice a Cabul, sem esquecer Munique, para recordar os mais recentes.

Se não podemos pedir muito a quem perdeu num destes atentados, tragicamente, o ente querido, o amigo, o futuro, devemos exigir que governantes e cidadãos não se fiquem pela indignação sentida e mais umas quantas declarações patrioteiras avulsas.

Aliás, a velha conversa fiada dos papagaios do costume que repetem que temos de nos habituar a poder levar com uma bomba, um camião, uma rajada ou um tiro ao virar da esquina é totalmente inaceitável.

Não, não queremos nem podemos conviver com a barbárie, venha ela de onde vier, seja ela perpetrada no ocidente ou no oriente.

Este é o cerne do problema que tem de ser enfrentado, sem demagogia, nem o cinismo do monstruoso terrorismo de Estado.

E não há nenhum coro afinado, com mais ou menos órgão de comunicação social satisfeito por ser um mero eco, que possa disfarçar o mundo que criámos e em que vivemos.

Se continuarmos a insistir em lamentos lancinantes, a assistir ao saltitar de dirigentes e operacionais dos serviços de informações para a política e o poder Executivo e vice-versa e numa resposta securitária e bélica, enquanto a segregação e a desigualdade crescem a um ritmo alucinante por esse Mundo fora, corremos o risco de ver a legitimação da violência mais brutal e gratuita a ganhar terreno.

O artigo de Arnaldo de Matos, intitulado “Resistência Não É Terrorismo!”, que coloca os atentados numa lógica de olho por olho, dente por dente, tem uma mensagem cristalina: «Os actos de resistência dos povos explorados, oprimidos e agredidos não são actos terroristas; são actos legítimos de guerra, sejam praticados na frente de combate, se houver frente de combate, sejam praticados no interior do país imperialista agressor».

Se o artigo tem o único mérito de representar uma pedrada no charco no reino da hipocrisia reinante, também representa a defesa de uma lógica infernal que não podemos aceitar em nenhuma circunstância, pelo que é urgente mudar o paradigma, para não cair no caos, na banalização sanguinária e na ratoeira da resposta musculada.

Face ao que tem sucedido, mesmo à frente dos nossos olhos, urge tomar partido, claramente, cada um de nós, contra todo o tipo de terrorismos e contra os Estados dentro dos Estados que escapam ao escrutínio das instituições democráticas e agem no secretismo dos mais diferentes e difusos interesses.

Não há atentados terroristas bons e maus.





segunda-feira, 11 de julho de 2016

A minha alegre casinha



Anda por aí uma felicidade alucinante que só incomoda quem não tem o mínimo contacto com a realidade dos portugueses, os de cá e os de lá de fora.

E não percebeu, nem em directo, nem agora, a transcendência do momento em que milhares e milhares de emigrantes portugueses em França celebraram a vitória no Euro, o do futebol, está claro, no Stade de France, em Saint-Denis, cantando em delírio "A minha casinha", dos Xutos & Pontapés.

Os craques da selecção conseguiram muito mais do que a taça, libertaram o país, durante um mês, de uns malvados que continuam a ameaçar Portugal com sanções por não sermos capazes de cumprir as regras da União Europeia, consagradas num tratado que foi baptizado, sem ironia, com o nome de Lisboa.

Não faltaram elogios para qualificar os novos heróis da bola e até adjectivos para castigar os diabos azuis, os de Bruxelas comandados pelos alemães, evidentemente.

Até já lhes chamaram terroristas, aos “meliantes” de Bruxelas, inquestionavelmente. Nem mais. Portugal está sob ataque cerrado, mas conseguimos ganhar o Euro 2016, contra tudo e todos.

Também não faltaram outras explicações para condenar os monstros impiedosos, os da Europa insensível, pois claro, à medida que se adivinhava uma espécie de Cavalgada das Valquírias com tons lusos (alemão à parte) na final das finais.

É um escândalo!

Não querem pagar o nosso Estado Social e as nossas aventuras salteadas com muita corrupção.

E ainda nos querem vergar, sobretudo as esquerdas que se juntaram para apoiar um governo que tarda em encontrar a prometida receita mágica do fim da austeridade.

No Euro, o outro, o de futebol, depois de uma prestação sofrida conseguimos a desejada vitória na final.

De Griezmann, Draxler, Giroud e até de Dimitri Payet não reza a História, e a luta continua contra quem ainda não nos venceu: Angela Merkel e Wolfgang Schäuble.

Podemos estar à beira de um novo resgate, de ficar de fora do Euro, o da moeda, manifestamente, mas não precisamos de lições sobre o défice, as contas públicas, os clubes falidos e os estádios abandonados.

Com os novos heróis do Euro, o da bola, pois claro, e José Manuel Durão Barroso na liderança do maior Banco do Mundo, o Goldman Sachs, só há um limite: a memória.

José Saramago escreveu a “Jangada de Pedra” em 1986. No momento oportuno. No preciso momento em que as actuais virgens ofendidas com Bruxelas e com o aproveitamento do futebol se lambuzavam com a promessa de milhões e milhões de ajudas comunitárias. 

 E com a glória do Euro, o da moeda, obviamente.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

CGD: e ainda se riem do Brasil


A "revelação" das contas da Caixa Geral de Depósitos está a provocar um terramoto silencioso.

Não, não é pela iminência da prisão de alguns notáveis, da esquerda ou da direita, pois o regime está minado por políticos corruptos, assente numa Justiça incapaz e sustentado por uma comunicação social que não é livre.

A questão é outra: cheira a fim de festa, pá!

As declarações que se sucedem, à direita e à esquerda – sobre a oportunidade de se saber a verdade sobre as contas da CGD e, pour cause, passar a conhecer os nomes dos ladrões e cúmplices responsáveis por este verdadeiro assalto –, chegam a roçar o grotesco.

E lá vem o problema sistémico...

E lá vem o desfile de promoções e condecorações para premiar bandidos que, por acção e/ou omissão, contribuíram para a presente situação.

E lá vem o coro dos pactos e consensos que, até agora, factualmente, apenas serviram para branquear.

E ainda se riem do Brasil...

Perante os factos conhecidos, não é possível confundir quem denunciou este regabofe e pagou o preço com quem participou no festim e multiplicou vantagens.

Muitos daqueles que discursam na praça pública, quais virgens ofendidas, fizeram e fazem parte deste rolo compressor que tem atirado o país para a miséria.

Entre estes donos da coisa pública e os arautos do discurso político expurgado de qualquer moralidade – como se a imoralidade fosse passível de confusão com a amoralidade – lá estão os pobres coitados que obedecem a ordens e apenas são escolhidos por "não causarem problemas".

Pois é, entre eles, verdadeiros capachos de mandantes sem escrúpulos, lá estão tantos e tantos que têm de pagar as suas contas... 

domingo, 8 de maio de 2016

Estado chroma


Sob a capa de um discurso vistoso e diabolizando quem ainda nos permite ter pão na mesa, literalmente, é caso para dizer que a António Costa está apostado em alimentar um Estado chroma, cavalgando uma sucessão de imagens que ele, e todos nós, sabemos que são apenas e tão-só virtuais, com ou sem túnel à mistura.

O leitor só descobre o chroma quando lhe é permitido ver os bastidores pobres e desinteressantes de uma produção cinematográfica, de um programa de televisão ou de uma sessão fotográfica.

A parede verde no fundo é de estranhar, ao permitir uma diversidade fantástica e uma celeridade inimaginável, mas depois entranha, entranha e até confunde, pois permite a criação da aparência de um mundo perfeito.

Filme a filme, programa a programa, imagem a imagem, take a take, frame a frame, hora a hora, minuto a minuto, segundo a segundo, tudo parece mudar, numa explosão de cores e formas, mas afinal continua tudo na mesma, com a parede verde, sempre verde, no mesmo sítio.

Um par de meses após o regresso da esquerda ao poder, agora sim, de toda a esquerda, o sonho (ingénuo?) de haver alguma diferença em relação à direita que nos tem governado está à beira de virar pesadelo.

O Estado já nem esconde a falência, a corrupção que o mina e, agora, até faz gala em ameaçar não assumir os contratos que assina.

Só faltava o discurso arrogante e típico de quem anda sempre com o povo na boca mas ignora e espezinha os direitos dos cidadãos.

Em nome de uma legitimidade ilimitada da representação política, logo abusiva e falsa, a megalomania parece não ter limites para quem, fazendo de conta que tudo está bem, mantém o discurso de quem tem os cofres cheios, embora saiba muito bem que eles estão, outra vez, cada vez mais vazios.

É a manipulação mais grosseira, quiçá desprezível, ao serviço da táctica política e partidária, ignorando que o iminente falhanço, mais um, pode ter um preço e impacte devastadores sobre a vida das pessoas e das famílias.

Estamos a assistir, novamente, a momentos surrealistas da vida colectiva do país, emparedado entre o passado, marcado por atitudes delirantes e messiânicas (José Sócrates e Pedro Passos Coelho), e o presente sublinhado pela atitude irresponsável (António Costa).

Só faltava ainda outro tipo de atitude: a felicidade dos afectos (Marcelo Rebelo de Sousa).

Tanta encenação!

Os portugueses merecem mais do que este Estado chroma.

A verdade é bem diferente: nos corredores do poder está em curso uma guerra de interesses para manter a sobrevivência de alguns lugares no Olimpo das facilidades.

Indiferentes à vida dos cidadãos, a realidade aí está, tal e qual como é: se o défice aumentar, então o Estado aumenta os impostos; se a dívida continuar a crescer, então o Estado corta nas pensões; se o emprego não florescer, então o Estado ameaça o sector privado e avança com negociatas que permitem comissões chorudas; se a banca abre falência, então o Estado obriga o contribuinte a pagar.

O Estado é apenas o que parece, porque acreditamos no querem que acreditemos, e permitimos que assim seja.

Será coma?

Será carma?


Até pode ser chroma, mas não o pode ser eternamente, porque até no mundo virtual também há limites.

sábado, 7 de julho de 2012

Que gente é esta?

      Passos Coelho não pode continuar a massacrar os portugueses ao mesmo tempo que poupa as clientelas e os amigos.

      Os portugueses não mereciam esta desilusão, sobretudo porque muitos acreditaram que uma nova geração de políticos seria capaz de consolidar a mudança, de combater a corrupção, de enfrentar o tráfico de influências, de prescindir das nomeações partidárias, de fomentar uma cultura de rigor e exigência, de dar o exemplo de seriedade e credibilidade e de devolver a esperança num futuro melhor.

      Há limites para a arrogância. Após a última extraordinária decisão do Tribunal Constitucional, a declaração que deixou implícita a ameaça velada de futuros cortes nos subsídios de férias e de Natal para o universo dos trabalhadores, públicos e privados, é uma violação flagrante do contrato estabelecido com os portugueses durante a campanha eleitoral.

      Há limites para a desonestidade política. As reacções dissimuladas não abafam a actuação impune de Miguel Relvas, a guerra surda no seio do governo, as negociatas de Estado, os tachos para os amigos e companheiros de partido, entre outras barafundas, mais ou menos secretas, que estão a manchar a governação a um ritmo vertiginoso.

      Os portugueses não podem aceitar pacificamente mais aumentos de impostos antes do governo fazer o que prometeu e tem de ser feito sem demora:

1. Acabar com o regabofe das fundações públicas e privadas, cuja decisão já começa a tardar;

2. Concluir a renegociação das PPP's, mais uma vez adiada;

3. Combater a promiscuidade ao mais alto nível (por exemplo: no conselho consultivo do Banco de Portugal têm assento personalidades com interesse na banca privada);

4. Batalhar contra o potencial tráfico de influências entre Estado e interesses privados (por exemplo: os mais importantes ex-ministros das Obras Públicas são actualmente altos responsáveis das maiores empresas do sector);

5. Moderar a prática degradante de deputados que de manhã trabalham em empresas privadas e à tarde lideram comissões parlamentares que as fiscalizam (por exemplo: os dois últimos presidentes da Comissão de Defesa - José Mattos Correia e José Luís Arnaut - pertencem ao mesmo escritório de advogados, cujo principal sócio, Rui Pena, foi ministro da Defesa);

6. Combater a corrupção ao mais alto nível e a economia paralela, começando por fiscalizar os 13740 organismos públicos, dos quais só 1724 apresentam contas?

7. Enfrentar o triângulo formado por presidentes de câmara, promotores imobiliários e banqueiros que são responsáveis por uma bolha que está à beira de rebentar;

8. Romper com os oligopólios, com mais ou menos energia e combustível, que obrigam os portugueses a mais e mais sacrifícios;

9. Extinguir entidades que só têm servido para gerar confusão e desresponsabilização nos mais diversos sectores;

10. Reduzir os 9 mil milhões de euros de euros gastos em juros da divida pública.

      Aumentar impostos? Ainda mais? Antes de avançar com medidas essenciais para atacar o "monstro" que tem condenado os portugueses à miséria?

      Afinal, que gente é esta?

      Já não dá para pactuar com as falsas promessas, com as ameaças do custe o que custar, com as fugas pelas traseiras para escapar aos protestos e com os discursos medíocres e vagos.

      O diagnóstico está feito, sobretudo por quem tem opinião livre e dispensa chafurdar na manjedoura do Estado.

      Basta começar por rever o último programa "Negócios da Semana", que passou na SIC Notícias, moderado por José Gomes Ferreira.

      Nunca é tarde para reconhecer os erros e ter vergonha na cara.